domingo, 26 de agosto de 2007

Um grande vinho é aquele que você, invariavelmente, se arrepende de ter aberto.
Fazer o que?
Já estava com a rolha na mão. Só me restava encher a taça e acabar com aquela sensação de vazio que pairava no ar, apesar dos aromas que se anunciavam.
Provei.
Me arrependi de não ter reservado uma ocasião mais apropriada. Um vinho desses merecia muito mais.
No fim da primeira taça ainda tentei recuar, pensei em tampar a garrafa, guardar, mas seria um sacrilégio ainda maior.
Parti para a segunda. Me arrependi de não ter por perto amigos, pessoas que amo ( e que desejo).
Terceira taça. Me arrependi de não ter escrito um romance arrebatador, daqueles de tirar suspiros até dos mais insensíveis, de não ter beijado o menino mais bonito da escola, de não ter me declarado mais, de não ter ousado mais, viajado mais.
Na quarta taça ainda havia, mais ou menos, metade da garrafa. Me arrependi de não saber quantas taças cabiam em 750 ml, de não ter sido uma aluna melhor em matemática, física, história, de não ter feito veterinária, robótica, italiano e absolutamente nada.
Na quinta taça, que eu não sabia mais se era a quarta ou a sexta, me arrependi profundamente não lembro mais do que.
Restava ainda um pouco de vinho quando me arrependi de não ter previsto uma trilha sonora para aquele momento. Um grande vinho merece bem mais que o silêncio respeitoso da minha solidão consciente.
Coloquei um cd. A partir daquele momento seríamos tres a testemunhar a grandiosidade daquele encontro. Pamela Williams, John Mayer, Raul Midon...
Brindemos!